Final dos anos 80, lá estava eu em um dos meus primeiros embarques como um jovem 2º Oficial de  Máquinas, em um superpetroleiro, seguindo para o Japão. Meu turno de serviço, naquela noite, era  das 00:00h às 07:00h da manhã, acompanhado por mais dois colaboradores. 

As 02:00h, um alarme de  incêndio soou no CCM – Centro de Controle de Máquinas, indicando fumaça no último estrado da  praça de máquinas de um VLCC. Da sala de controle até o último estrado da praça de máquinas era  como descer um prédio de 5 andares. Imediatamente ordenei: - Equipe, verifique a ocorrência e apague  o incêndio! Nada... Os dois colaboradores que estavam comigo no CCM nem se mexeram. 

Nova ordem  ainda mais severa: - Equipe, APAGAR O INCÊNDIO!!! Nada aconteceu, novamente... Seu Ubirajara (nome fictício), Suboficial Condutor, e Claudio (outro nome fictício), Marinheiro de Máquinas,  continuaram com suas atividades no CCM. Quando comecei a dar a mesma ordem pela 3ª vez, Seu  Ubirajara veio na minha direção, bufando de raiva, olhando nos meus olhos, com o dedo indicador  direito em riste, bradando: - Atenção GAROTO! Aprende logo uma coisa: aqui não se manda! Aqui se  pede as coisas! Aqui não se grita com ninguém! Temos idade suficiente para sermos seus pais, ouviu GAROTO? 

Tentando outra abordagem! 

Importante ressaltar que o fato narrado anteriormente, ocorreu em um Navio Mercante, meio civil. Nunca, jamais, ocorreria  em um Navio de Guerra, meio militar. Seria bailéu (cadeia), na certa!!! 

Continuando... Mudei de ordem para pedido e eles, após um breve (quase eterno) suspense,  atenderam com a seguinte ressalva: - nós iremos, mas você irá na frente comandando o combate ao  incêndio! Você não é o Oficial? Pois bem, vá em frente! Dê o exemplo! 

Foi o que fiz... Fui na frente,  apagamos o princípio de incêndio e tudo voltou ao "normal". Às 09h00 já estava em meu camarote, após o café da manhã, aos prantos de raiva, ódio e frustração. Liguei para casa, algo que ocorria a cada  10 dias, pois não havia telefone por satélite. Tudo acontecia na telegrafia (Código Morse) e na fonia, via estações costeiras de rádio transmissão. Conversei com minha esposa e ela me pediu calma e  ponderação. 

Dois meses depois do ocorrido, agora chegando no Brasil, minha esposa (Pedagoga) me  disse algo que beirava o óbvio, mas com um profundo significado: - "você precisa aprender a lidar com  gente, como gente"! Ela também me presenteou com um livro cujo título era "Psicologia para  Administradores", de Hersey e Blanchard. Aquele foi o meu primeiro passo como autodidata, o  primeiro livro sobre Liderança.  

O Comandante desse petroleiro era um homem muito culto e, obviamente, muito viajado. 40 anos no  mar, muitas tempestades e furacões, ondas de 20 a 30 metros, transformam homens em verdadeiros  seres do mar, com água salgada e petróleo nas veias. Graças a ele o navio possuía uma ótima biblioteca,  com temas variados, mas uma leve ênfase em Filosofia, Psicologia e Administração, nessa ordem.  Mergulhei nos livros para nunca mais voltar à tona!  

Desafios de um Líder

Tornei-me autodidata em Pedagogia, Filosofia, Administração e pintor de quadros, óleo sobre tela.  Meus 10 anos de mar foram lendo, lendo, lendo e aplicando os conhecimentos que estava  vasculhando, pensando sempre na Liderança e no Trabalho em Equipe. Era a minha realidade, meu  desafio e o meu laboratório. Como liderar 36 homens (ainda não havia mulheres a bordo), longe de  casa, longe de suas famílias, com problemas familiares, sem lazer, sem perspectivas de migrar para  terra e trabalhar como um ser humano normal, como?

Sabe o que é receber a notícia do falecimento de um filho, ou uma mãe, ou um pai, no meio do Oceano  Índico? Muito, muito longe de terra. Ver o mais profundo sofrimento nos olhos de um pai que não  pôde despedir-se de seu filho? A segunda semana, de todas as viagens no longo curso (viagens  internacionais), é a semana em que o navio vira um navio fantasma. Todos estão em seus camarotes  individuais. Reclusos, isolados, em companhia apenas da saudade. Eu escondia as fotos dos meus filhos  e família para sofrer menos. Não é fácil...  

Um dia deparei-me com uma frase que mudou a minha vida! Eu li: - "Liderança é algo que deve, e pode ser aprendida"! Estava no prefácio de um livro cujo título era "O Líder do Futuro", do autor Peter  Drucker. Que achado!!! Daí vem a minha paixão e admiração por Peter Drucker. Devo muito a ele e a outros autores que contribuíram para minha base de conhecimentos sobre Liderança e Trabalho em  Equipe.  

Com o seu Ubirajara, do incêndio na praça de máquinas, comecei a aprender e a comprovar que  Liderança é EXEMPLO! Peter Drucker só me deu mais certeza ainda. Daí em diante comecei a praticar  aquilo que estava aprendendo sozinho, a duras penas, no meio do mar... À tarde, antes do pôr do sol,  em mares calmos, eu costumava caminhar pelo convés. Eram, pelo menos, uns 250 metros da  superestrutura (casario) até a proa. Na proa eu sentava em um banquinho que todo navio possui, no  bico de proa, com o vento do deslocamento do navio no rosto, assim como o suave spray das ondas quebrando sobre o bulbo e a proa do navio. Ali eu sonhava em poder estudar Liderança. Conhecer os  grandes líderes da história. 

Ao longo da minha carreira profissional, completando agora 40 anos de petróleo e 25 em sala de aula (MBAs), continuo fascinado pelos temas Liderança e Trabalho em Equipe. Dediquei o meu Mestrado  ao tema Liderança no Cooperativismo de Crédito, outra paixão. Criamos um método para desenvolver Líderes e Equipes Sinérgicas. Criamos um Simulador de Emergências Industriais para simularmos a  tomada de decisão em situações críticas. Criamos um instrumento de medição para medir o Trabalho  em Equipe, possibilitando quantificar a performance de um grupo e, melhor ainda, planejar e projetar  o seu crescimento.

Líderes formam outro líderes 

Ao longo dos 25 anos de sala de aula, nos MBAs, encontrei vários pupilos e pupilas. Acompanho alguns,  bem de perto. Um deles, que conheci em 2002, em sala de aula, hoje é o meu Coordenador em alguns  projetos de desenvolvimento de tecnologias. Grande Líder de Projetos! Outro, recentemente, tornou se Diretor de RH de uma grande empresa nacional – um excelente Líder! Uma pupila estava quase,  quase, lançando uma revolucionária startup. O projeto foi para a "gaveta" pois ela precisou aceitar  uma oferta de emprego em uma multinacional. Imperdível! Claro, ela está crescendo nessa empresa e, sempre que posso, dedico um tempo em acompanhar o crescimento dela. Outros se tornaram  Professores, Executivos, Líderes, Colaboradores de destaque, Pais, Mães, Filhos e incríveis Seres  Humanos, muito humanos...  

Agora, minha maior motivação e energia está em traduzir tudo o que criamos para a Liderança e  Trabalho em Equipe presenciais, ao longo dos anos, para o mundo digital. O desafio é imenso e, ao  mesmo tempo, fascinante pois, tudo é "novo". Sem a limitação física, com novos recursos de  tecnologia da informação e comunicação surgindo a cada semana. Você está percebendo a explosão  de criatividade em todas as áreas? Hoje, agora, nesse momento, a cada minuto são: 

• US$ 1 milhão, por minuto, em compras online; 

• 347 mil novos Stories são postados no Instagram; 

• 147 mil fotos são publicadas no Facebook; 

• 41 milhões de mensagens são trocadas no WhatsApp; 

• YouTube ganha 500 novas horas de vídeo enviados pelos usuários; 

• 69.444 pessoas se candidatam à alguma vaga no LinkedIn;

• Enquanto a Amazon envia 6.659 encomendas, por minuto. 

Conclusão 

Nesse contexto, como sua empresa desenvolve seus Líderes? Como formar, ou melhor, como forjar a  Liderança da sua empresa? Como a Liderança dialoga com esse mundo que estamos vivendo? Qual a  importância do desenvolvimento de Líderes para o negócio? Quais os melhores métodos, caminhos,  para despertar ou gerar a Liderança na sua empresa? 

Pode acreditar:  

- Sim, Peter Drucker estava certo - "Liderança é algo que deve, e pode ser aprendida"! 

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