Quem estuda a história da pedagogia no Brasil sabe que estamos vivendo um momento em que a educação tradicional, onde o professor é o dono do conhecimento e o aluno mero receptor de informação, está sendo colocada em questionamento e novas abordagens estão sendo praticadas. 

Metodologias ativas, práticas inclusivas e educação transformadora são conceitos essenciais para entendermos esse novo contexto pedagógico.

Neste artigo vamos conhecer mais detalhadamente o conceito de educação transformadora, mais conhecida pelas palavras do pedagogo Paulo Freire, e vamos entender todos os seus principais aspectos além de compreender os desafios que este modelo de pensar a educação possui para ser implementado por completo.

O que é educação transformadora?

Em um trecho, dos mais importantes, de sua grande obra (Pedagogia do Oprimido), Paulo Freire afirma que “a educação não transforma o mundo. A educação transforma as pessoas. Pessoas transformam o mundo”.

Podemos recortar essa pequena parte de sua obra para entender o conceito de educação transformadora.

Como dissemos no início, estamos acostumados com um sistema pedagógico baseado na ideia de que o professor é o único detentor do conhecimento, e o aluno acaba se apresentando como mero receptor de informações, que são passadas de forma geral, homogênea e da mesma forma para todos os alunos, como se eles fossem códigos de barra.

O que eles não são. Não é verdade?

Esse modelo sempre foi questionado por educadores que pensam a educação como uma jornada viva e pulsante para o estudante, que deve ser sempre o protagonista de sua história como agente educacional e social.

Neste sentido surge o conceito de educação transformadora, processo complexo e mais subjetivo, que incorpora a realidade dos alunos na busca por uma pedagogia inclusiva, ativa, e que transforma a relação professor/aluno, para que esta gere alunos cidadãos e transformadores do mundo.

A educação como agente de transformação

Conseguiu entender? Vamos reforçar alguns pontos então.

Quando pensamos em educação transformadora pensamos em um sistema que deixe a teoria como mero auxiliar, e que pense a prática pedagógica como resultado das realidades subjetivas de cada estudante.

A educação precisa ser um agente de transformação social para o aluno, ele precisa encontrar no processo de ensino e aprendizagem formas para se encontrar no mundo, formas para pensar o mundo e formas para vencer no mundo.

Nesse novo pensar o professor adquire outros papéis, como facilitador e intermediador, e divide com o estudante o protagonismo do sistema pedagógico, criando ferramentas e possibilidades para que cada aluno seja o seu próprio guia na jornada educacional.  

Vemos também que o conhecimento tradicional, passado através das disciplinas mais formais e técnicas, acaba sendo contrabalançado com o conhecimento prático, aquele conhecimento que tem o poder de transformar vidas e auxiliar nos futuros desafios pessoais e profissionais dos estudantes.

Aspectos para uma educação transformadora

Para entendermos melhor como a educação transformadora pode proporcionar novas abordagens pedagógicas e novas possibilidades educacionais para professores e alunos, é importante entendermos alguns de seus aspectos essenciais:

Tecnologia

É impossível pensarmos em novas abordagens pedagógicas hoje em dia sem utilizar ferramentas tecnológicas que auxiliem novas práticas educacionais.

Uma educação transformadora pressupõe um poder maior de protagonismo para o aluno, e nesse sentido a tecnologia surge como um grande aliado da jornada de ensino e aprendizado do aluno.

As metodologias ativas de ensino, que proporcionam muito mais autonomia para o aluno, são aliadas de uma educação transformadora, pois oferecem ferramentas para jovens buscarem por conta própria todo o conhecimento existente no mundo.

Aparelhos de smartphones, computadores e ferramentas como a internet, realidade virtual, realidade aumentada e gamificação são saudáveis e ricas, se forem utilizadas com eficiência e acima de tudo, com um projeto educacional planejado.

A tecnologia tem todos os elementos para se tornar uma aliada de um processo de educação que visa à transformação do aluno em um ser atuante na sociedade, que se movimenta e que busca uma jornada de aprendizado que se adeque a sua realidade.

Interdisciplinaridade

Pensar os conteúdos pedagógicos hoje da mesma forma que pensávamos décadas atrás é um grande erro e educadores já buscam novas abordagens de apresentação de conteúdos nas escolas.

É quase consenso que o trabalho de interdisciplinaridade é essencial para que o conhecimento seja passado de forma mais prática e aliada a realidade das coisas.

É muito importante entendermos que a bagagem que o estudante carrega é fundamental para que ele consiga absorver conteúdos e informações das mais diferentes disciplinas.

Um aluno que não compreende um enunciado de geografia porque a linguagem utilizada não foi ensinada nas aulas de português não consegue se desenvolver enquanto aluno em nenhuma das abordagens.

O conhecimento tende a ser cada vez mais interdisciplinar, e uma educação transformadora passa necessariamente por processos pedagógicos mais eficientes, realistas e que se adequem às necessidades de todos os alunos.

Conhecimento de mundo

Uma educação transformadora deve ter a capacidade de expandir sua atuação para além dos muros da escola. Uma educação que de fato transforme deve incentivar o conhecimento de mundo, aquela bagagem de informações e práticas que o aluno experimenta ao longo da vida das mais diversas formas.

Um aluno capaz de transformar o mundo e se transformar enquanto ser do mundo é aquele que consegue ser ator nas diversas demandas da vida. Por isso é função do educador incentivar seus alunos a opinarem sobre as diversas situações do mundo, desde o meio ambiente, passando por tecnologias ou política.

Pensar é transformar, então é muito difícil pensarmos numa pedagogia transformadora sem o incentivo ao ato de pensar, de julgar e de opinar. Um aluno que pensa é um futuro cidadão que consegue intervir nos problemas da sociedade de forma mais autônoma e independente de ferramentas parciais e tendenciosas.  

Como incentivar uma educação transformadora

Depois que vimos os principais aspectos a considerar em um sistema de educação transformadora, fica a pergunta: como posso incentivar essa prática no ambiente escolar?

A resposta é até mais simples do que parece:

Investir em interdisciplinaridade

Já falamos aqui o quanto uma educação transformadora se relaciona com métodos de aprendizagem que levam em consideração as coisas da vida.

Quando falamos da importância de um ensino interdisciplinar, estamos focando em um ensino que busque criar diálogos entre as disciplinas e a realidade, que busque criar pontes entres as diversas áreas de conhecimento e unir com as práticas da vida no dia a dia. 

Já falamos mais acima o quanto o bom ensino de língua portuguesa pode ajudar um aluno no entendimento de questionamentos de geografia, ou matemática, ou ciências biológicas. 

Incentivar a reflexão

Essa é uma das grandes funções do professor dentro deste novo contexto no qual se insere as metodologias ativas e a pedagogia transformadora. O professor é um facilitador e instigador, que incentiva o aluno a pensar e a refletir sobre as coisas do mundo.

O professor deve ajudar cada estudante a encontrar-se enquanto agente autônomo, enquanto um ser pensante e atuante. O professor deve auxiliar o aluno, dando-lhe todas as ferramentas necessárias e instigá-los a pensar e a refletir sobre tudo que for importante para a prática do ensino e aprendizado.

Investir em tecnologia e metodologias ativas

É preciso colocar o aluno no centro do processo de ensino e aprendizado. Para isso, é importante utilizar todas as ferramentas existentes, e as tecnologias estão ai como grandes aliadas da educação, se forem bem usadas.

Estudantes desta geração possuem muita facilidade em lidar com ferramentas tecnológicas, e os educadores devem investir nesta relação, criando atividades e ações que façam as tecnologias gerarem conhecimento para os estudantes.

Utilizar jogos, usar realidade virtual, realidade aumentada, criar novos formatos de aula, como podcasts, vídeos-aula e incentivar a construção de novos ambientes de ensino, como a sala de aula virtual só tem a agregar dentro do processo de educação transformadora.

Desafios da educação transformadora

O grande desafio para a construção de uma educação transformadora está no perfil de uma sociedade como a brasileira, formada em sua grande maioria por estudantes sem míninas condições financeiras, que precisam muitas vezes deixar à escola para já ingressar no mercado de trabalho.

Criar um sistema educacional que gere transformação para os alunos requer criar condições práticas e reais para que estes alunos de fato possam vivenciar experiências pedagógicas de forma completa.

Para isso a participação dos pais e das comunidades se faz necessária e essencial, e mais uma vez esbarramos no perfil de uma sociedade como a brasileira, formada por pais desempregados ou com subempregos e que precisam muitas vezes da ajuda de seus filhos para incrementar a renda.

Assim o maior desafio de uma pedagogia transformadora é construir um projeto de educação inclusiva, justa, que coloque o estudante como protagonista de sua jornada, e que ofereça condições para que este modelo de fato chegue ao público alvo, que são os estudantes das escolas públicas.  

Conclusão

Vimos neste artigo como uma educação transformadora pode ajudar na transformação de uma nação como a brasileira, e como seus pilares dialogam muito com as novas abordagens de ensino, como as metodologias ativas e como a educação inclusiva.

E você, já ouviu falar deste conceito pedagógico?

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