Associativismo e Cooperativismo: Diferenças, Benefícios, Como Funcionam?
As bases do capitalismo continuam sendo responsáveis por quase toda a dinâmica empresarial encontrada no país atualmente, mas já há tempos que vemos iniciativas que buscam criar alternativas ao modelo mais tradicional de negócio.
Nesse sentido, o associativismo e o cooperativismo surgem como duas das principais opções de organização, e vem ganhando cada vez mais espaço no setor de empreendedorismo.
Neste artigo vamos conhecer os conceitos de associativismo e cooperativismo, as diferenças que cada um possui em relação ao outro.
Veremos também uma lista de benefícios que estes modelos de negócios possuem, se comparados ao modelo tradicional capitalista e vamos por fim entender todo o funcionamento destas duas novas perspectivas de empreendedorismo.
O que é Associativismo?
A ideia de associativismo não é nova, muito pelo contrário. Desde os primórdios que o homem percebeu que precisaria viver em grupo para ter maiores chances de sobreviver e de ter uma qualidade de vida maior.
O associativismo pode ser definido como um tipo de organização de grupos com interesses econômicos e que visam atender necessidades e realizar objetivos em comum. Mais para frente veremos que seus princípios se assimilam aos de uma cooperativa, porém elas são diferentes.
Uma associação pode ser composta por duas ou mais pessoas, que visam defender os objetivos comuns de um segmento econômico ou comunidade. As associações são consideradas organizações privadas, porém sem fins lucrativos, e podem desenvolver uma série de atividades de cunho social.
Resumindo as associações consistem na livre organização de pessoas com o objetivo primário de resolver problemas e buscar soluções em comum ou atingir metas estipuladas em conjunto.
Vamos aos exemplos: uma associação de moradores de um determinado bairro tem como função defender os interesses daquele bairro perante a prefeitura e órgãos competentes.
Uma associação de produtores agrícolas representa o setor no mercado ou oferece suporte técnico na produção, ou então auxilia na política de preços.
Associação e solidariedade
Podemos dizer que o associativismo se baseia na ideia de solidariedade, de livre participação de cada associado e de cooperação e união para encontrar soluções comuns para resolver problemas, demandas ou para alcançar objetivos.
Princípios do associativismo
Adesão voluntária e livre;
Democracia na gestão;
O patrimônio é social;
Atuação sem fins lucrativos;
Autonomia e independência;
Educação, formação e informação;
Desenvolvimento da comunidade.
Objetivos do associativismo
Contribuir para o desenvolvimento de seus associados;
Aumentar o acesso à informação de seus associados;
Fomentar a atuação dos associados no mercado;
Representar os associados em órgãos públicos e privados;
Diminuir riscos e despesas;
O cooperativismo
O cooperativismo, surgido durante a Revolução Industrial, na Inglaterra, surge como alternativa ao capitalismo mais tradicional.
Ele tem início quando 28 tecelões na Inglaterra resolveram se juntar para conseguir negociar melhores preços de alimentos e produtos, já que individualmente cada um deles estava tendo muitas dificuldades.
Assim o cooperativismo nasce, como uma forma de organização de pessoas físicas ou jurídicas, reunidas por um interesse existente em comum, e com o interesse em conquistar objetivos em comum, que eles individualmente teriam muito mais dificuldades para alcançar.
Basta nos lembrar do exemplo dos tecelões da Inglaterra.
Tal qual uma associação, uma cooperativa pode ser considerada iniciativas sem fins lucrativos, de propriedade coletiva e devem ser compostas por, no mínimo, 20 pessoas.
Outra similaridade entre o associativismo e o cooperativismo são os princípios que os regem. O cooperativismo também possui princípios que fornecem toda a base do movimento cooperativista:
Autonomia e independência;
Interesse pela comunidade.
O movimento cooperativista é um dos mais relevantes e organizados atualmente no mundo inteiro e no Brasil, especificamente, responde por uma boa fatia do mercado, tendo grande participação em mercados como o agropecuário, por exemplo.
Em termos de legislação, há 13 setores na economia que podem abrir cooperativas:
Consumo;
Educacional;
Especial;
Habitacional;
Infraestrutura;
Mineral;
Produção;
Transporte;
Trabalho;
Turismo e Lazer.
As diferenças entre Associativismo e Cooperativismo
Vamos entender o que une uma associação e uma cooperativa primeiro.
Podemos dizer que ambas são associações formalmente constituídas sem fins lucrativos.
Então onde está a diferença?
Podemos encontrar diferenças no conteúdo de ambas.
Enquanto o objetivo primordial das associações é promover a assistência social, educacional, cultural, a representação política, a defesa de interesses de classe, dentre outros direitos constituídos, o objetivo de uma cooperativa é de cunho econômico.
Para ilustrar, podemos retornar com os exemplos usados aqui:
Como exemplo de associativismo nós podemos usar o exemplo de uma associação de moradores de bairro, que vai buscar defender os interesses das pessoas que habitam naquele lugar (mais transporte público, mais escolas, segurança, etc) perante órgãos públicos ou até mesmo iniciativa privada.
Para exemplificar o cooperativismo podemos voltar ao caso dos 28 tecelões ingleses que se reuniram para assim negociar melhor a compra de alimentos e de produtos junto às distribuidoras.
Podemos destacar outras diferenças:
Posse
Quando falamos do cooperativismo uma das ideias mais famosas é a de que o cooperado é consumidor e dono da cooperativa. Essa é uma ideia que diferencia esses dois modelos de economia colaborativa.
De fato, nas cooperativas os cooperados são considerados donos da organização, além de beneficiários dos ganhos. Nas associações essa dinâmica não existe, ou seja, os associados não são proprietários da organização e nem podem se beneficiar economicamente delas.
Ganhos
Quem conhece o cooperativismo sabe que a ideia de lucro é modificada neste modelo, e se trabalha com o conceito de sobra, que é o excedente, o que sobra depois que se cobrem todos os custos básicos da cooperativa.
Esse excedente é ao final dividido com todos os cooperados de modo proporcional, e muitas vezes também é direcionado para as próprias demandas futuras da organização, como investimentos adicionais, etc.
Numa associação qualquer ganho existente precisa ser direcionado para a sociedade e não para seus membros. Não há brecha jurídica para que associados recebam valores das associações.
Patrimônio
Numa associação o patrimônio é formado basicamente pelas taxas pagas pelos associados regularmente ou não, por doações, fundos e reservas. Uma associação não possui capital social, dificultando assim a obtenção de financiamentos bancários, etc.
Na associação o patrimônio acumulado deve ser direcionado para outras organizações semelhantes, em caso de dissolução.
As cooperativas, por outro lado, possuem capital social, possibilitando assim o financiamento junto às instituições financeiras. O capital social é formado por quotas, podendo receber doações, empréstimos, e processos de capitalização.
Nas cooperativas, o patrimônio é utilizado para beneficiar os próprios cooperados.
Constituição
Uma associação pode ser formada por somente duas ou mais pessoas. Já uma cooperativa, requer o mínimo de 20 indivíduos para que se possa constituir uma cooperativa.
Elas também são regidas por legislações:
Associação: Constituição – art. 5º, de XVII a XXI, e art. 174, §2º e código civil.
Cooperativa: Lei Nº 5.764, de 16 de Dezembro de 1971, Constituição – art. 5º, de XVII a XXI, e art. 174, §2º e código civil.
Representação
No que diz respeito à representação, podemos diferenciar da seguinte forma:
Associação: pode representar os associados em ações coletivas de seu interesse. É representada por federações e confederações.
Cooperativa: pode representar os associados em ações coletivas de seu interesse. Pode constituir federações e confederações para a sua representação.
Valores
No cooperativismo existe o repasse dos valores resultantes do trabalho realizado pelos cooperados ou então da venda dos produtos comercializados pela cooperativa.
Em uma associação os membros nem são os beneficiários do trabalho realizado pela organização.
O que associações e cooperativas possuem em comum?
Já falamos aqui todas as diferenças existentes entre cooperativas e associações.
Porém, além dos princípios defendidos, elas possuem muitas outras coisas em comum:
Elas contribuem para o desenvolvimento social
Tanto uma cooperativa quanto uma associação possuem uma importante função social, que é a de ajudar no desenvolvimento de diversos setores sociais, seja através da economia solidária, seja através de educação, de capacitação, de saúde, de benefícios diretos e indiretos.
Ambos os modelos de negócio possuem como objetivo também a melhoria da qualidade de vida de todos os envolvidos, além de buscar auxiliar no desenvolvimento das localidades onde estão inseridos.
Seja uma associação, que tende a buscar melhoras para um setor, ou uma localidade, seja uma cooperativa, que busca melhorar a vida de todos que vivem em seu entorno, são importantes atores no processo de melhoras sociais de um país.
Possibilidade de conseguir os melhores preços
Quando você realiza negociações em grupo, ou representando um grupo muito maior, a tendência é que se consiga negociar preços e condições, gerando assim muito mais benefícios para os associados, cooperados, e todos que estão em seu entorno.
Interesses coletivos em primeiro lugar
Um dos grandes diferenciais destes dois modelos se comparados com o modelo capitalista é este: Associações e cooperativas pensam sempre em interesses coletivos, enquanto que numa empresa tradicional os interesses de poucas pessoas são sempre levados em consideração.
Tanto numa associação quanto numa cooperativa os interesses de seus cooperados e associados são levados em consideração e nenhuma ação mais estratégica e importante é realizada sem consulta prévia e acordo com todos os membros da organização.
Redução de custo
Esses dois modelos de negócio tendem a reduzir muitos os custos para as organizações, pois não é somente a compra que é negociada com maior poder de barganha. Todos os processos tendem a ser otimizados, como as atividades produtivas, as compras e vendas, dentre outras diversas ações e atividades.
Benefícios do associativismo e do cooperativismo
Podemos listar alguns benefícios que o associativismo e o cooperativismo proporcionam.
Contribui para o desenvolvimento social
Esse é um dos primeiros e mais importantes benefícios que ambas oferecem. É muito gratificante estar em um modelo de negócio que tem como objetivo a melhoria da qualidade de vida de todos os envolvidos, além de buscar auxiliar no desenvolvimento das localidades onde estão inseridos.
Melhores preços
Um dos benefícios que estes modelos oferecem é a possibilidade de se negociar com grandes parceiros vantagens econômicas e melhores preços.
Quando você entra em uma negociação representando um grupo muito maior, as suas chances de conseguir melhores condições comerciais são muito maiores.
Interesses coletivos em primeiro lugar
Quando pensamos no diferencial que associações e cooperativas possuem em comparação com empresas tradicionais, vem logo à cabeça o fato de numa cooperativa, por exemplo, os interesses dos cooperados serem colocados em primeiro plano.
Em uma associação a situação é similar e os interesses coletivos se sobressaem aos interesses individuais.
Redução de custo
Negociar preços é só uma das ações que geram redução de custos. Há toda uma possibilidade de otimizar atividades, compra, venda, produção e tudo o mais.
Conclusão
Neste artigo ficamos conhecendo dois modelos econômicos que surgiram como alternativas ao modo capitalista de negociar, que tem como pilar o lucro individual.
Vimos que tanto nas associações quanto nas cooperativas prevalecem os interesses coletivos, e que estes interesses vão muito além de obter lucros somente.
Há nos dois modelos um interesse social que fazem de ambos alternativas sustentáveis para o presente e o futuro do planeta.
Vimos também que estes dois modelos possuem muitas diferenças, que vão desde a finalidade básica até mesmo a legislação que cada uma delas segue.
Ao fim, percebemos que apesar de muitas diferenças, são as similaridades que fazem do associativismo e do cooperativismo duas das melhores opções de economia colaborativa existentes no mundo atualmente.
E você, já conhecia algum destes modelos?
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